Quando meu irmão foi viajar para a Inglaterra em 2000, eu tinha apenas 6 anos. Via meus pais tendo que ligar do nosso telefone fixo para uma telefonista, que passaria para o responsável pelo local onde meu irmão estava hospedado. Caso meu irmão estivesse em casa, poderíamos, enfim, tentar matar a saudade dele.
Treze anos depois, quando eu fiz intercâmbio, eu pude ver meus pais toda semana pelo Skype. Pude ver e ouvir minha vó me dizendo para botar casaco mais vezes que ouvi a voz do meu irmão quando ele estava na Inglaterra. Isso é sensacional. Podemos compartilhar nossos momentos especiais com quem quisermos, onde quer que estejamos. Hoje em dia podemos acompanhar a vida de nossos amigos, ídolos e mentores diariamente.
Mas não postamos momentos ruins. Aqueles dias em que não nos sentimos bem com a gente mesmo, nós não compartilhamos no Facebook ou Instagram. Talvez mais do que arriscar nossa aprovação social, não queremos compartilhar sentimentos negativos. Isso faz total sentido. Não temos nenhuma intenção de drenar a felicidade de outras pessoas. E não somos únicos, quase todos agem assim. Como consequência, nosso feed é inundado com fotos polidas de ambientes e pessoas em um estado de primor. Todos escondem seus momentos ruins, mas como temos centenas de pessoas em cada rede social, atualização e fotos nunca carecem.
A simples percepção de que os perfis não retratam uma vida em equilíbrio e real é o suficiente para perceber uma abertura para comparações próprias negativas. Assistir constantemente a um mundo onde o sol brilha todos os dias, em que todos tem corpos esculturais e sorrisos brancos pode indicar que somos os patinhos feios da história.
Por outro lado, podemos falar com aqueles que gostamos. Nossos amigos, entes queridos. Reiterando o que disse antes, não mais é necessário que sua avó demonstre seu amor por você sugerindo que você vista um casaco pessoalmente. Encontramos pessoas com gostos similares aos nossos e podemos conhecer e formar novas amizades. As redes sociais também provêm, de certa forma, um senso de comunidade que nos providencia muita tranquilidade e satisfação.
Não acredito que vestir uma armadura, montar um cavalo branco e cavalgar por aí como um cavaleiro dos bons costumes contra as redes sociais seja a solução para uma vida mais realizada. Mas nosso cérebro primitivo não está adaptado à velocidade com que desenvolvemos essas tecnologias e novos hábitos. Estudos demonstram benefícios (1) e malefícios (2) vinculados ao uso de redes sociais como o próprio Facebook. A certeza é de que a nossa relação com as mídias sociais é no mínimo complexa. Por isso, ponderar e questionar o impacto destas ferramentas que a maioria de nós, como eu, usa todos os dias, é no mínimo necessário.
(1) http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0747563213002926
(2) https://hbr.org/2017/04/a-new-more-rigorous-study-confirms-the-more-you-use-facebook-the-worse-you-feel
Gabriel
Vida de Titã
https://www.youtube.com/vidadetita