Hoje através da convivência pessoal e regras subjacentes da sociedade, somos forçados e imaginar um fluxo contínuo de felicidade que deve persistir a todo e qualquer preço, além disso, quando a tristeza surge é algo terrível e desesperador. Através da análise do filme de animação Divertidamente, podemos pensar a respeito do papel de cada sentimento dentro da nossa personalidade, comportamentos e atitudes.
Hierarquia de sentimentos imposta pela sociedade
A tristeza, tanto quanto a alegria, têm seus papéis de igual valor na vida. Para que uma seja sentida, a outra deve existir. De outro modo, seria impossível saber o que é estar alegre, caso este sentimento fosse sentido sem parar. Se assim fosse, em pouco tempo chamaríamos a alegria de qualquer outro nome. Talvez apatia, a própria tristeza, ou até depressão.
O mundo que nos cerca, redes sociais, pessoas e ambientes, pregam a felicidade plena em 100% do tempo. Algo emocionalmente impossível. Isto tudo nos faz pensar que o “sentimento base” deveria ser sempre a alegria, e então quando um revés aparece, ele se torna um furacão devastador que não deixa pedra sobre pedra no nosso frágil mundo interno.
Os altos e baixos nos edificam e nos fazem admirar cada dificuldade, cada fase difícil ou momento triste, como situações geradoras de felicidade futura. A tristeza tem a função de nos induzir á introspecção e ao autoconhecimento. Com ela tendemos a nos isolar quase inconscientemente para que hajam ajustes no nosso mundo interno. É essencial absorver, interpretar e permitir-se estar triste em alguns momentos, nessas horas renovamos os significados, nos desconstruímos e sem perceber, construímos mais uma camada de força, maturidade e experiência.
A função da tristeza
É possível analisar no filme o papel das emoções no que diz respeito ao comando da “central” no nosso inconsciente. A menina Rilley teve muitos momentos felizes acabando por gerar memórias base alegres, por sua vez, seu inconsciente era comandado pela alegria, este era seu sentimento base. A sua mãe, no entanto, era comandada pela tristeza. Constatar isso não significa que apenas sentimos o que está “no comando”, e sim, diz respeito ao nosso modo de pensar e interpretar o que nos acontece e o mundo que nos rodeia, recheado dos mais variados estímulos emocionais.
Quando nossas memórias base são de maioria triste, há uma tendência a ver o mundo com mais zelo frente aos desafios que nos são impostos, pois ter a tristeza com participação significativa no inconsciente nos faz ter um autocuidado, uma atenção especial ao que nos aflige. Com certeza após grandes doses de tristeza, voltamos renovados, energizados e completamente preparados para retomar o caminho deixado para trás.
Os sentimentos vêm e vão para o mesmo lugar, seus valores são iguais, seus pesos, sem diferença. Não há hierarquia de sentimentos e por isso mesmo que não devemos nos preocupar quando a tristeza bate á porta, ela pode trazer consigo uma bagagem de experiência positiva que doses constantes de felicidade jamais trariam. Permitirmo-nos experienciar diferentes sentimentos traz um forte componente de resiliência, muito importante para que cada novo desafio, seja ele alegre ou triste, nos faça aprender mais e melhor.
Um comentário sobre “A tristeza é necessária: e ela tem lado bom”