Ganhe like, perca life…

Usei e abusei da licença poética para gerar uma reflexão sobre nossas vidas nas redes, pois acredito ser necessário fazê-lo. Estamos construindo laços usando relações líquidas (vale muito a leitura dos escritos de  Zygmunt Bauman para aprofundar o conceito, a frase: “as relações escorrem pelo vão dos dedos” ilustra lindamente a ideia), isso deforma a forma como a sociedade se relaciona com o outro, deixando as pessoas mais frias e distantes. A solidariedade com a dor de um amigo é inexistente, porém a foto que nos comove por 9 segundos é compartilhada e gera reações instantâneas em forma de emoji, essa comoção rasa é só um resquício de sentimento, pois a timeline não para.

Viver é exercer a vida, as redes são um meio e nunca um fim, quem não vive, está morto, mesmo que não em definitivo. O nosso tempo é muito precioso e direcioná-lo em demasia para atuar nas redes, é apenas um exercício de futilidade. Nossa evolução, como sociedade, já é muito difícil e requer muito de nós para ficarmos doando o nosso tempo para aumentar o alcance de campanhas de marketing. Já temos nossas lutas, que não são poucas e em geral não são fáceis.  Deixemos os vampiros do tempo serem secundários, quiça terciário, apenas para suprir uma necessidade e não para interagir com quem mora conosco.

Nossa existência já é fluída por natureza, não deixe que ela escoe.

Isso é o final da mensagem de ano novo que escrevi para todos os meus contatos nas redes:

“Depois dessa tempestade iremos todos nos encontrar e compartilhar, de verdade, vivências e abraços, estreitar os laços e preencher os espaços que só uma presença inteira pode, curtidas e mensagens prontas, só mimetizam sentimentos rasos e não é bom nos acostumar com isso quando nós merecemos muitos mais.”

Eis…

|LA| |PI| |DE|

Mortos conjuram seus cantos balidos
encaram o vazio com a face sem cor
A chama se extingüe ao fim do pavio
sua boca sem verbo não mais louva a dor

E passam por eles os corpos sem vida
Ostentam e se orgulham da face sem rosto
Mascaram o passado fingindo p’ra o mundo
Provando do fel e mentindo o seu gosto

Se iludem nos dias contados em horas
Expõem pinturas de coisas banais
Escondem de si a alma que chora
Se enfeitam de glórias em busca de paz

A paz que lhe escapa nas buscas erradas,
Os erros que fazem e os medos que traz.
Coser sua mortalha que jaz enganada
P’ra ler na sua tarja a palavra jamais

Viver sem sentido sentindo desgosto
E ser para si razão de derrota
Procurando a paz no caminho oposto
Olhar para dentro e achar que não nota

Contar para o vento o todo que fiz
E achar que seus ecos, são aprovação
Negando a verdade de não ser feliz
Rezar no final e pedir seu perdão.

Milton Lavor


Milton Lavor

Acredito na força das ideias como forma de mudar o mundo. Estudante de Engenharia elétrica para potencializar as contribuições ao todo. Escritor, desenhista e pintor como resultado do que transborda. Servidor público como profissão e filosofia como paixão. Alguns detalhes escapam por falta de espaço.

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