Kant dizia que “Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a pena…” Mas o que é a morte? Eurípedes filosofando poeticamente inquiriu “Quem sabe dizer se a vida não é o que chamam de morte e a morte não é o que chamam de vida?” Se conheço bem Drummond ele responderia: não sei. Fernando Pessoa num jorro de amargura e eloqüência escreveu certa vez “Somos apenas cadáveres adiados que procriam.” Todavia sem dúvida o pensamento mais sutil sobre a morte, na minha humilde opinião, é de Sêneca ao afirmar “Nisso erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte.”. Borges dizia “Todos os caminhos levam a morte. Perca-se.” Perder-se em Borges é metáfora para “Faça o que você ama.”, pois como dizia Neruda “Se nada nos salva da morte que pelo menos o amor nos salve da vida.” porque segundo Siro “Ninguém pode fugir ao amor e à morte”.
Eu penso que morrer talvez seja voltar para Deus. Disse talvez porque esse retorno é individual e alguns talvez não retornem para Deus. Dona Aparecida diz que “Para morrer basta está vivo.” Nelson Rodrigues não tinha piedade “A morte é pior para quem fica. Quem fica chora e o defunto? O defunto nem sabe que morreu.”. O que nos remete a alegação de Epicuro sobre a morte “Nada temos a esperar nem a temer.”. Para os espíritas não existe morte, apenas “passamento” a espera da reencarnação. Para São Paulo “O último inimigo a ser destruído é a morte.” Para Nietzsche “Morrer é duro. Sempre senti que a única recompensa dos mortos é não morrer nunca mais”. Será?
Sócrates especulava binariamente que “A morte é uma de duas coisas… Ou é aniquilação, e os mortos não têm consciência de qualquer coisa; ou, como nos é dito, é realmente uma mudança: uma migração da alma de um lugar para outro.” Apostas? Belli revelou que “A morte está escondida nos relógios”. Afinal, tempo é vida e vida é morte segundo T.S.Eliot para quem “todos mergulham no escuro”. Clarice Lispector não fazia questão de esconder seu ressentimento: “É uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde” Quem olhará em teus olhos com amor, sinistra morte? A morte é o “Nunca mais” do poeta Edgar Alan Poe. Wood Allen ironiza “Não é que eu tenha medo da morte. Eu só não queria está lá quando ela chegasse.” Quem queria?
A memória da mortalidade nos assombra, mas ela também nos lembra que a vida é uma experiência evanescente, única, imperdível e que deve ser vivida com ética e amor. Não vale a pena nos perdemos em pequenas ou grandes guerras cotidianas. Não vale a pena fazer o mal. Não vale a pena odiar nosso semelhante ou sermos ressentidos e vingativos. A morte é certa para todos, embora à hora de sua incidência seja incerta. Por isso, convém estarmos, como nos exortou o príncipe Hamlet da Dinamarca, segundo Harold Bloom, nosso embaixador da morte, “prontos para tudo” inclusive para morrer hoje como infelizmente morreu o ator global Domingos Montagner. Será que ele sequer intuiu que hoje seria seu último dia de vida? Será que nós intuiremos quando chegar nosso dia? Será que teremos tempo para fazer tudo que queremos e nos amarmos?
“Agarre-se a seus sonhos, pois, se eles morrerem, a vida será como um pássaro de asa quebrada, incapaz de voar.” Langston Hughes