“A psicanálise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que devemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância para com o mal não é de maneira alguma um corolário do conhecimento”, Sigmund Freud.
Navegando por textos e revistas eletrônicas eis que encontro materiais valiosos. Os textos, inspiradores, descrevem o papel político da psicanálise e seus atores, os analistas.
Para início de conversa, a escola de psicanálise “(…) é o lugar onde os trabalhadores decididos não estão a serviço do discurso do mestre, do universitário ou do capitalista”, afirma Antônio Quinet no editorial da revista Stylete Lacaniano.
Voilà! ‘Ce que nous devons faire’ (temos que fazer isso, em curumim). Eis a minha inclinação particular e esmiuçante sobre os temas.
Segundo Quinet, a Escola de Psicanálise não está a serviço do gozo de alguém que acredita ser o “cara”, trata-se de um organismo que tem por função política trazer a psicanálise ao dever que lhe cabe em nosso mundo, dentre outras coisas. Mas, a parte que lhe cabe neste latifúndio extraconsultório é justamente a subversão.
“A psicanálise é subversiva, mas os analistas são conservadores e reprodutores da ordem vigente, por demais condescendentes com a civilização. Porém não todos!”. Adverte no editorial, e complementa: “Daí a necessidade de uma crítica assídua, para que a psicanálise não seja degradada e engolida pela religião, pela ciência ou pelo discurso capitalista”.
No título “Em defesa das causas perdidas”, outro psicanalista, Slavoj Zizek, adverte que, nestes tempos atuais, as coisas não parecem boas para grandes causas, porém nossa missão (incluindo visão e valores repetindo os clichês dos sites empresariais) aqui é dizer o contrário, senão acovardamos no dogmatismo institucional e político de elites academicamente desunidas.
Fora a espoliação capitalista e, com ela, a segregação, problemas de gênero, cor, intolerância e o ódio nos discursos neofascistas, há outras questões internas que também são politicamente preocupantes. Por exemplo, a “psicologização” da psicanálise e sua foraclusão do inconsciente. Mas isso é pano para outro fundo (prometo dedicar-me à crítica).
Também nos deparamos frequentemente com questões identificatórias. Entre nós sabemos o que não é um psicanalista e… “reconhecemo-nos sem saber o que é um. Afirmar-se psicanalista implicaria necessariamente numa marca, mas uma marca contingente, que não se deixa universalizar”, diz o analista Conrado Ramos.
Talvez, alegoricamente, seríamos como aquelas maioneses caseiras temperadas com sabores diversificados. Algumas podem causar sérios problemas intestinais, mas inegavelmente superior às, educadamente, industrializadas.
Aceitar a diversidade, suas múltiplas modalidades é uma indicação ética que deve orientar nossa política. A política da psicanálise é a política do inconsciente, que é democrática incondicionalmente.