“Por nossa posição de sujeito, sempre somos responsáveis”, Lacan.
Quem nunca culpou o inconsciente por uma atitude que cometeu e que lhe trouxe consequências desagradáveis? “Fiz sem pensar”, dizem. Pensou sim e a responsabilidade é sua. Mesmo que seja inconsciente.
Por exemplo: esqueci de enviar o texto no prazo. Azar o meu. Minha mente entra no pacote irresponsável.
Em sua tese, o psicanalista Jorge Forbes, revela que o analista que acredita no inconsciente irresponsável não trata o sintoma. “Como já dito, a clínica é ética, não uma moral de hábitos”, mas voltemos ao cotidiano. Fora da segurança entre quatro paredes do setting e do divã.
Retomado este ímpio “monólogo articulado”, deste que vos escreve, o próprio Forbes diz que “a psicanálise de hoje ultrapassa o interesse da clínica exclusiva do consultório”.
Da tese para o livro, a obra “Inconsciente e Responsabilidade” foi muito discutida no meio. Ela traz uma contribuição singular para a clínica e além dela.
Claudia Riolfi, por exemplo, explica que a obra expôs os princípios de uma Psicanálise que leva cada um de nós a encontrar, na vergonha, seu ponto de ancoragem. Já, para Alain Mouzat, a obra provoca uma proposta implacável: ser responsável pelo que lhe acontece!
O equívoco justamente está quando o conteúdo inconsciente é mera consistência para justificar as ações das pessoas.
Agora, quando é “pressionado” a uma decisão, mesmo se já tiver agido por impulso, na satisfação ou no arrependimento, é quando o sujeito como um todo, nutrido com a infinidade complexa dos argumentos mentais, se responsabiliza.
Por isso, a responsabilidade é de todos. Em outras palavras passa pela consciência, pré-consciência e inconsciência. Melhor ainda, ou pior, a escolha é toda sua, vai do saber ao não-saber.
Como diria o discípulo de Diógenes, o Cínico, e célebre morador da ‘vila’ do Seu Barriga, no México: “foi sem querer querendo”.