FELICIDADE OU MORTE

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Segundo o grande escritor Robert Louis Stevenson “Não há dever mais subestimado do que o dever de ser feliz.”. Não importa se você é homem ou mulher, superficial ou profundo, crente ou niilista, capitalista ou comunista, luxurioso ou assexuado, todos aspiram à felicidade. Não é verdade? Assim, recomendo a palestra acima intitulada “Felicidade ou morte” desses dois intelectuais mestres do universo, os Professores Leandro Karnal e Clóvis de Barros Filho realizada em Campinas-SP (21/06/16).

Sempre brilhantes e eruditos além de irônicos e irresistíveis os dois desenvolveram ao longo de quase duas horas um fecundo e fascinante colóquio sobre a importância da busca da felicidade para o ser humano. Segundo Clovis ao abrir a palestra“Felicidade ou morte é uma grande reflexão do que tem que acontecer na vida para a vida valer a pena.” A princípio a felicidade seria a plena satisfação de nossos desejos que são ininterruptos e insaciáveis. Portanto, para ele esse conceito de felicidade seria inviável. Felicidade não é desejo, pois desejo é falta. Felicidade seria uma ideologia subjetiva. Assim, cada um tem o direito e o poder de definir seu próprio conceito de felicidade.

Para Clóvis: “A felicidade implica em uma certa capacidade de amar e portanto dedicar a própria vida a que outros se alegrem (…) ir além do egoísmo, do autocentramento e propor ao mundo o fluxo dos recursos, a distribuição adequada de tudo o que é para que um só não seja uma ilha de alegria, mas que todos possamos compartilhar juntos em convivência aquilo que o mundo tem de melhor a nos proporcionar.”. Não é nobre?

Já Karnal nos ensina que para os budistas o segredo da felicidade é não desejá-la, por assim dizer. Não existe uma fórmula universal para a felicidade humana porque a maior marca da humanidade é a diversidade. Como diz o ditado: “Se a grama lhe parece lasanha, sirva-se.”. Segundo Karnal não há uma receita de felicidade e o conceito de felicidade varia com o tempo e a circunstancia. A felicidade também depende dos nossos encontros energéticos diários, ou seja, das pessoas que nos circundam e podem elevar nossa potência ou desidratá-la. Genial, Clovis afirma que não havendo fórmulas para a felicidade ele devolve para nós a responsabilidade pela busca de nossa própria felicidade. Já segundo Karnal aproveitando o gancho, uma boa forma de ser feliz é centrar-se em coisas que não dependem da aprovação de terceiros, embora possam dialogar com eles. E cita Wilde ao dizer: “Apaixonar-se por si é a única forma de amor permanente.”. Imagino que ele não acredite no amor verdadeiro imortal. Que sorte.

No meio da palestra Karnal conta uma piada podre, mas infalível. Afirma que temos que perder essa obsessão pelo positivo, pois “nem sempre ser positivo é bom: “Dois homens absolutamente bem-sucedidos se encontram e um pergunta: “E o seu apartamento? Ele disse: pegou fogo. E aquela sua esposa maravilhosa? Fugiu com o outro. E seu emprego? Fui demitido. Pô cara, conte algo positivo. E ele diz: Meu exame de HIV.””

Para Karnal “A dimensão trágica da existência é uma coluna da felicidade.” Isto é, a felicidade é diretamente proporcional ao sacrifício que fazemos para conquistá-la. Por isso é essencial redescobrir o que os franceses chamam de “o gosto do esforço”. O que explica os altos índices de suicídio em países muito desenvolvidos e economicamente equânimes, onde se observa um equilíbrio social, cultural e étnico. Para Karnal a diversidade é a chave da exuberância e do encanto do mundo. E é um privilégio poder apreciar a “Liberdade da diversidade.”. Diversidade constitui riqueza e novidade.

Segundo Leandro é essencial lutar as batalhas que sejam significativas e não perder tempo com batalhas secundárias, bobas e narcísicas. Para ele a sabedoria aumenta a medida que o corpo decai e nos prepara para a ciência final, a morte, que não devemos temer, pois onde a morte está nós não estamos. A morte é invisível e indolor. O grande problema é o que fazer da vida antes da morte. Qual é a vida que vale a pena ser vivida? Para ser feliz é preciso aprender a pensar com nossa própria cabeça. Para Aristóteles o indicativo da felicidade estaria no pleno desabrochar do ser. Assim, ao ser cabe buscar a excelência de si mesmo e amar. Afinal, como disse Karnal “O futuro é de quem ama”.

Alguns vícios nos impedem de ser felizes como a vaidade, o orgulho, o egoísmo, o ódio, a inveja… Eles estão sempre causando atritos e desgastes desnecessários em nossas vidas. Há esperança de felicidade para quem for criativo e tiver capacidade de aprender as lições ensinadas pela vida. Sem dúvida alguns dos elixires para a felicidade são a autoconfiança, a autonomia e a autenticidade que tornam a vida singular e sublime. Eu sinto a felicidade na pulsão passional do dia, numa brisa noturna fria antecedendo a chuva melancólica, no olhar doce da minha mãe, na esperança de uma releitura, numa quimera esquecida, numa lembrança involuntária, num novo livro, num beijo de amor…

Segundo Karnal ele não tem certeza se a felicidade está associada à liberdade. Mas uma coisa é clara, a infelicidade está associada à falta de liberdade. A negação da vontade verdadeira é um erro cujo preço é a própria felicidade. E segundo Clóvis “A ética, o respeito, a honestidade e a decência são condições essenciais para uma boa convivência.” O que é fundamental para nossa felicidade. Segundo o filósofo francês Sartre a essência é modelada pela existência e a existência é uma construção aberta. Por isso é essencial mudar de vida se você se sente infeliz. Toda mudança implica dor e em geral corresponde a um processo lento e contínuo, mas indispensável para ser feliz.

Por fim, nessa palestra incendiária Clóvis usa a metáfora das pamonhas para identificar o que lhe faz feliz. Qual é a sua pamonha? Irônico e iconoclasta, ele afirma que seja qual for a sua pamonha a felicidade de saboreá-la diminui com o tempo antropofágico. Já segundo Karnal a felicidade é um projeto definido por valores, o que é realmente importante para mim e o que eu preciso fazer para conquistar isso. O que é realmente importante para você? Se puder responder essa pergunta já resolveu metade dos seus problemas. A outra metade consiste na coragem para lutar pela sua própria felicidade. Afinal, se você pode mudar e não muda de quem é a culpa senão sua? O que você quer?

Não viveremos para sempre. Portanto, convém ser feliz o quanto antes. Recomendo.

“Seja feliz nesse momento. Esse momento é a sua vida.” Epicuro


Thiago Castilho

Advogado e escritor, um homem de leis e letras. Acredito que a arte pode “ensinar a viver”. Ensinar a viver significa ensinar a lutar pelos seus direitos e a amar melhor a si e a toda humanidade. Adquirir o conhecimento e transformá-lo em sabedoria de vida no palimpsesto do pensamento. Eis meu ideal intelectual que busca realizar a experiência do autoconhecimento, não sei até se do absoluto e talvez do Sublime aplacando assim minha angústia existencial, sem soteriologia, porque ao contrário de Heidegger não acho que somos seres-para-a-morte, mas seres-para-a-vida e seres-para-o-amor.

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