SUPERESPECIAL DIA DAS MÃES

“Mãe é um trem tão bom!” Minha mãe sobre sua mãe

Segundo o Cazuza “Só as mães são felizes.”, paradoxalmente existe um ditado que diz “Ser mãe é padecer no paraíso.” Mas a verdade é que a maioria das mulheres aspiram e amam ser mães. A magnífica maternidade é orgânica, psicológica e poética. A natureza prepara o corpo da mulher para ser um templo da vida e para ser a matriz de sua prole. Passar nove noves gestando um novo ser inocente no útero (“regaço do cofre maternal, sombrio e cálido” Drummond) é uma experiência incomparável. Nada a supera. A mulher torna-se um deus capaz de gerar vida. Simbolicamente a filosofia foi forjada na Grécia antiga para fazer frente à maternidade. Já que não podiam conceber filhos os homens concebiam idéias, o que prova nossa inveja no reino da existência humana.

Então, há um elo orgânico espiritual entre a mãe e o filho (a) que se transforma num elo emocional eterno. O pai não. Por isso, muitas vezes, a paternidade é problemática porque além de ser mais largado do que a mulher o homem não carrega em si a marca da experiência. Segundo a ciência muitos homens só passam a amar seus filhos depois do nascimento. As mães os amam desde antes de serem concebidos, elas os pré-idealizam. A mulher-mãe é superior ao homem-pai porque o amor dela tem duas vias: o corpo e o coração. O homem só tem o coração. Não significa que não possa amar infinitamente e incondicionalmente, claro que pode. Mas o amor feminino materno continua sendo naturalmente SUPREMO E SUPERIOR até mesmo ao amor masculino paterno. Como diz o ditado “Mãe é mãe.”. Com ela aprendemos a cultivar nossos valores, a fazer o que é certo, a ser ético, empático, justo, corajoso, gentil e generoso. E o olhar de nossa delicada origem? Como dizia Alphonse de Lamartine “O olhar dos olhos de nossa mãe é parte de nossa alma, é o olhar que nos penetra por nossos olhos”.

Gaia, musa do pai, clássica, condescendente, carinhosa, “menineira”, feminina, mas sem frescura (matadora profissional de baratas), intuitiva, neurótica, insone, se os filhos demoram a chegar, salvadora quando passamos mal, baixinha, fofinha, cinquentinha, linda, vaidosa, temente a Deus, mediadora, humilde, honestíssima, forte, cruzeirense, extremamente sociável, carente, adora um elogio, conselheira, Amélia, generosa, especialista em extrair bicho de pé e benzer os outros, fã nº 1 do Rei Roberto Carlos, antipluviosa, engraçada, higiênica, enjoada, escandalosa, leoa leal e superprotetora, mimética (gosta de imitar os outros), gourmet brilhante, tem um “olhar de anjo”. Divino diamante de música, sonhos e rosas, eis minha mãe marsupial. Seu refrão é: “Eu sou uma empregada nessa casa.” Nosso refrão: “Mãe!”. Na TPM: “Me deixem em paz, malditos ou…”. Mas quando ela sai de casa e demora a chegar nós passamos fome.

Enervada minha sagrada mãe fala sozinha assim como eu. É coisa de gênio. Sustenta uma teoria polêmica sobre o casamento: “Casamento é mel e merda.” assim como a vida e segundo ela a morte“deve ser um alívio”. A abelha-rainha administra toda a sua colméia com sucesso. A mãe-coruja cuida de todo mundo aqui em casa (éramos 4 homens clássicos, mas o filho do meio casou. Agora somos três, além da filha Princesa, nossa maritaca e recentemente o caçula da família, o Sujim, um cachorro vira-lata que ela adotou das ruas e trata melhor do que nós). Mas o amor supremo da mãe sempre foi sua mãe de quem ela cuidou até a morte que beijou minha avó só depois dos 90. Minha mãe sempre dizia que nessa vida: “Primeiro Deus, depois minha mãe, por fim vocês”. Chama-se Aparecida em homenagem a Nossa Senhora da Aparecida que salvou a avó de uma cegueira pós-parto. Um dia me deu a obra “A Metamorfose” do Kafka. Não tem ambição, exceto amar e ser amada e agora deu para ficar no WhatsApp o dia todo.

Minha mãe veio da roça e sempre sente saudades de lá, ama um casamento e não perde um velório. É venerada pelos amigos. Faz um sublime café ralo com sabor de sempiternidade (algo que não tem início nem fim). É um café metafísico. De vez em quando ela chega chutando a porta do meu quarto. Nós brigamos muito, mas sempre fazemos as pazes e fingimos que nada aconteceu. (É o amor.) Ela tem olhos mágicos. Meu pai para ficar com ela teve que enfrentar a família. Reza a lenda que eles noivaram debaixo de um pé de bananeira e só depois o mundo ficou sabendo. Ela vive dizendo que se o pai morrer nunca mais arruma outro homem que nem a Yoko Ono do John Lennon. Acho isso o sumo romantismo.

Minha mãe é bela, recatada e do lar. Minha mãe é incrível, lutadora, meiga, alegre e bem-humorada. Minha mãe é a maior artista de todos os tempos e eu sou a sua obra-prima. Quando nasci pré-maturo no inverno do Paraná um médico mentecapto disse que eu iria morrer, mas minha mãe disse para ele “Deus é maior” e aqui estou para nossa alegria. (…) Feliz dia das mães, mamães! Saúde, paz e o maior amor do mundo. Sempre. Vocês são superespeciais. Mais, únicas, fundamentais e insubstituíveis. Obrigado por tudo que fazem por nós, pelo amor infinito, incondicional e imortal e pelos suaves sacrifícios cotidianos do ofício materno. Cuidem-se e continuem cuidando de nós, pois como dizia Drummond, velhos embora, ao lado de vocês sempre seremos pequeninos feito grão de milho. Um beijo e uma confissão: “Te amo, mamusca. Você é maravilhosa”.

“A mãe é a mais bela obra de Deus” A. Garret Álvares de Azevedo

“Mãe é o nome de Deus nos lábios e corações das crianças.” William Makepeace Thackeray
“Mãe é o nome de Deus nos lábios e corações das crianças.” William Makepeace Thackeray

“_Fada Azul: Andaste à minha procura, não andaste?

_David: A minha vida inteira.

Fada Azul: E depois de tanto tempo, que vieste perdir-me?

_David: Por favor, faz de mim um menino de verdade para que a minha mãe me ame e queira ficar comigo.

_Fada Azul: Só desejamos a sua felicidade. Você conheceu tão pouco da felicidade…

_David: Se querem a minha felicidade sabem o que tem que fazer” Do filme Inteligência Artificial, em que o menino-robô David empreende uma jornada dantesca para se tornar humano e passa 2000 anos submergido no mar congelado pedindo a Fada Azul, que sempre sorria, para realizar o seu sonho impossível: torná-lo humano para que sua mãe o amasse.

Acima: bebê no útero. Very crazy!
Acima: bebê no útero. Very crazy!

 


Thiago Castilho

Advogado e escritor, um homem de leis e letras. Acredito que a arte pode “ensinar a viver”. Ensinar a viver significa ensinar a lutar pelos seus direitos e a amar melhor a si e a toda humanidade. Adquirir o conhecimento e transformá-lo em sabedoria de vida no palimpsesto do pensamento. Eis meu ideal intelectual que busca realizar a experiência do autoconhecimento, não sei até se do absoluto e talvez do Sublime aplacando assim minha angústia existencial, sem soteriologia, porque ao contrário de Heidegger não acho que somos seres-para-a-morte, mas seres-para-a-vida e seres-para-o-amor.

Comentários

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *