Peguei meu violão e sentei-me na sacada a tarde do dia. O sol que me fazia estreitar a visão, aquecia a falta que você deixou, quando senti o seu cheiro no ar, ao sair da minha casa pela última vez.
Tentei encontrar um shampoo parecido, cheiro de sabonete ou creme corporal, quando dei-me conta que já se passaram mais de meses, desde os últimos olhos nos olhos.
A vida passa e mais do que isso, leva consigo um pedaço de nós. O pedaço que ajudava o coração a bombear um pouco mais padronizado, o pedaço do pulmão que relaxava ao inspirar fundo.
Você se foi e não perdi minha alegria, mas percebi que muito da minha parte, ainda precisa ser melhorada.
Eu sinto saudade sim, como não o faria?
Eu sinto vontade sim, como não sentiria?
Eu sinto seu cheiro sim, pois na minha pele, sua essência exala quando em você eu acabo pensando. Ele ainda está intimamente enraizado na minha epiderme espiritual.
A vida é uma sequência de acontecimentos ímpares e irrepetíveis que só um coração bem resolvido pode apreciar.
O amor é uma desordem interna que só faz sentido para um coração profundo.
E a saudade?
A saudade é um respirar que não se conclui, que não oxigena e mesmo assim permanece durante tempo indeterminado.
Você se foi e eu permaneço aqui, sozinho, observando o sol também ir.
Essa é a vida, tudo passa, tudo há de passar. A única coisa que podemos fazer é apreciá-la, intensificá-la e nunca deixar de plenamente viver.
Não fique triste pelo que passou, alegre-se por ter vivido.
Não chore o que se foi, sorria por ter sentido.
E quando o seu tempo aqui na terra acabar, saberá que por mais difícil que tenha sido sua vida, estufará o peito e dirá:
– Valeu a pena viver cada segundo do meu simples estar.