Jornalista passa 1 semana comendo apenas nutella

Dificilmente encontramos alguém que não goste de Nutella, comer no pote, diretamente, já virou hábito para muitas pessoas.

À procura de algo para escrever e pensando em Nutella, o jornalista David Allegretti, lembrou de quantas vezes já tinha dito coisas como: “Poderia viver o resto da vida comendo só Nutella”.  Então, ele se perguntou o que aconteceria se ele passasse uma semana se alimentando somente com esse doce saboroso.

Foi assim que começou essa maluca história. Ele podia beber qualquer coisa, desde que não fosse um substituto alimentar. Fora isso, viveria só da deliciosa pasta marrom.

Confira seu relato a seguir:

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Meu editor ao mesmo tempo que ficou tenso com a ideia, ficou curioso; então, recebi sinal verde. Comprei dois potes de Nutella no supermercado perto de casa e decidi começar a experiência no sábado.

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Dia 0: Sábado, 18h. Peso: 66 quilos.

A primeira noite passei com enorme facilidade, fiquei rodando a cidade com um amigo, me sentindo ótimo. Acabei o primeiro pote em algumas horas e me senti ainda melhor.

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Dia 1: Domingo. Peso: 65,9 quilos.

Confesso não ser tão incomum assim para mim comer Nutella logo de manhã; então, tomei meu café com um sorriso no rosto,  pensando como é legal ser adulto e poder destruir sua flora intestinal à vontade. Algumas horas depois, eu estava sentado no parque com meus colegas de apê – o sol estava brilhando e o céu estava azul. Bebemos uísque, rimos, e tudo estava normal.

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O primeiro sinal dos problemas que chegariam foi as 19h. Entrei correndo em casa e vomitei ácido marrom na privada.

Dia 2: Segunda-feira. Peso: 64,8 quilos.

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A ressaca me dominava, minha cabeça estava martelando e tudo que eu desejava era uma pizza. Eu me arrastei do quarto até o banheiro – e, sim, também tive diarreia. Na cozinha, meu colega de apartamento olhou pra mim e riu. “Ainda fazendo o negócio da Nutella?”, ele perguntou. “É”, respondi, sombrio.

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Quando fomos pra rua: ele falava, mas eu não já conseguia ouvir. Minha cabeça estava enevoada e parecia que meus ouvidos estavam tapados. Eu não tinha energia e, no final do dia, estava faminto: só em pensar no chocolate com avelã descendo pelo meu esófago me dava ânsia de vômito. Finalmente já eram 8 da noite. Senti o cheiro dos meus colegas de apartamento esquentando pizza. Eles são uns cuzões sádicos – mesmo.

Dia 3: Terça-feira. Peso: 64,4 quilos.

Depois de três dias vivendo só de chocolate com avelã, meu olfato estava mais aguçado que nunca. Comecei o dia assistindo a um cara no trem comer torrada com manteiga de amendoim. Eu podia sentir cada molécula de sal daquela manteiga de amendoim, e elas estavam gritando meu nome. Eu queria amendoim e um hambúrguer. Uma deliciosa monstruosidade de queijo e bacon. Por favor, Jesus.

Quando cheguei ao trabalho e corri para o banheiro; mais diarreia. Aí comi o “café da manhã” na minha mesa, o que resultou no barato de açúcar típico. Fiquei ligadão nas horas seguintes, porém isso durou pouco. No final da tarde, eu já estava com cara de doente. Admito que estava me sentindo mal, tentava digitar, mas meu cérebro não conseguia coordenar. Não conseguia fazer nada, estava um lixo.

Meu estômago roncava tão alto que, no bonde, voltando para casa, tive certeza de que todo mundo estava ouvindo.

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Dia 4: Quarta-feira. Peso 63,9 quilos.

Eu tinha aula na faculdade, mas não conseguia sair de casa, me sentia em um grande buraco negro.

Era o começo da tarde quando meu telefone tocou. Era o Julian, meu editor. “Oi, estávamos pensando em cancelar a história”, ele afirmou. “Francamente, fiquei surpreso que você ainda esteja fazendo isso; então, ficamos preocupados com a sua saúde.” Com essas palavras, uma montagem de pratos dançou pela minha cabeça. Apesar de estar tentado, não podia parar agora. Quem ia ler a história de um cara que comeu Nutella por três dias? As pessoas devem fazer isso sempre. Não é loucura, não é nem interessante, mas decidi continuar.

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Passei quase todo tempo da minha tarde pensando em novas formas de comer Nutella. Congelei, e foi bom para usar o maxilar, mas o gosto não melhorou. Então, decidi derreter isso no meu café. Isso sim deu certo: aconselho todo mundo a experimentar.

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Dia 5: Quinta-feira. Peso: 63,8 quilos.

A quinta foi um dia complicado, estava pirando. É incrível como algo simples como comida pode ter um efeito tão dramático na sua saúde mental. Nesse ponto, eu estava vivendo num estado de quase insanidade. Nada era real e minha concentração estava despedaçada. Eu só conseguia encarar a parede e pensar em dormir.

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Dia 6: Sexta-feira. Peso: 63,5 quilos.

Repeti um mantra o dia inteiro: Amanhã vou pode comer. Amanhã vou poder comer. Amanhã vou poder comer.

Passei essa noite na casa de um amigo em Fitzroy. Sentamos em volta do fogo e eu estava achando o fogo totalmente fascinante. Meu humor era uma mistura de expectativa alegre e ressentimento.

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Dia 7: Sábado. Peso: 63 quilos.

Nunca esquecerei essa manhã. Eu me sentia um moleque de oito anos acordando na manhã de Natal. Pulei da cama, quase rindo de delírio. Eu tinha conseguido. Comemorei com um sanduíche de pernil tão grande que eu mal conseguia enfiar na boca. Pura alegria.

Voltei à minha dieta normal há três dias. E pensando agora, acho que foi a semana mais emocionalmente diversa da minha vida. Eu caía em poços de tristeza sem razão; depois, entrava num humor alegre e hiperativo tão rápido quanto. E eu estava totalmente confuso o tempo todo.

Acompanhar e processar o que as pessoas diziam era um trabalho. Em alguns momentos, realmente achei que estava perdendo contato com a realidade. Passei algumas noites andando pelo meu apartamento, imaginando se essa tortura autoinfligida valia a pena. Aí eu olhava o espelho e via um zumbi com olheiras exigindo comer um maldito aipo.

No momento, posso dizer que não gosto mais de Nutella. Mas volte a me perguntar daqui um mês.

[Vice]


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