Recentemente, falamos sobre o espiral negativo pelo qual muitas pessoas solitárias passam. Em 'Por que pessoas sozinhas permanecem sozinhas?' explicamos que, ao contrário do que muita gente pensa, os solitários não têm menos conhecimentos sobre habilidades de convívio social – é o nervosismo que os torna mais propensos a se comportar de forma diferente. As pessoas ficam isoladas e começam a temer experiências sociais, o que as impede de aproveitá-las.
(Obra de arte de Valentina chernykh)
Agora um artigo na Science of Us nos mostra que isso faz com que o cérebro dos solitários se comportem de forma diferente. Sem um grupo de apoio por trás de nós, entramos em um 'modo de alerta', ficando especialmente nervosos em relação a ameaças.
Estudos mostram que, quando pessoas solitárias assistem a uma cena de convívio social em vídeo, eles passam mais tempo do que a média procurando sinais de ameaça social – como pessoas isoladas no vídeo, ou sendo ignoradas. Ou seja, o cérebro delas capta mais rapidamente sinais de rejeição.
Uma pesquisa mais recente, feita pela Universidade de Chicago, revela de forma mais específica como solitários entram nesse modo de 'alerta'. Os cientistas recrutaram 38 pessoas muito solitárias e 32 pessoas que não se sentiam sozinhas (vale ressaltar que a solidão não foi calculada pelo número de amigos e familiares de cada pessoa, mas pelo sentimento de isolamento). Sensores foram colocados nas cabeças dos participantes dos estudos, o que permitiu que suas ondas cerebrais fossem gravadas e a atividade cerebral quantificada.
Enquanto usavam os sensores, os voluntários deveriam olhar para várias palavras exibidas em uma tela e indicar, com um teclado, em que cores elas estavam escritas. A ideia era que os participantes não se concentrassem na palavra em si, mas sim nas cores. A influência que o significado da palavra tem é considerada automática e subconsciente.
Algumas das palavras exibidas eram consideradas positivas (pertencimento e festa), algumas negativas (sozinho ou solitário), outras eram emocionalmente positivas, mas não sociais (alegria) e outras eram emocionalmente negativas, mas também não sociais (tristeza).
Durante o primeiro quarto de segundo (280 milisegundos) depois de uma palavra ser mostrada, o cérebro de pessoas solitárias entrava em uma série de microestados que era idêntico mesmo se a palavra negativa era social ou não. Mas depois desse ponto o cérebro passava a reagir diferente com as palavras negativas sociais, com uma mudança de atividade em áreas envolvidas no controle, sugerindo qeu eles entravam em um modo vigilante. Já os não solitários permaneciam com os primeiros microestados durante 480 milisegundos. A diferença parece pequena, mas na prática significa que a mente das pessoas solitárias está treinada para captar ameaças sociais mais rápido do que o 'normal'.
Pesquisadores afirmam que, pela resposta diferenciada ser tão rápida, solitários não estão conscientes dela. Afinal, em teoria, os voluntários não deveriam nem estar prestando atenção no significado da palavra.
E isso é preocupante – afinal, significa que os solitários estão mais ligados em emoções negativas do que nas positivas, o que pode fazer um sentido evolutivo (já que nossos ancestrais pré-históricos precisavam ficar mais alertas ao estarem sozinhos), mas não é benéfico atualmente. Afinal, contribui para o ciclo de negatividade do qual falamos lá em cima – e pode explicar o motivo pelo qual os solitários têm mais problemas de saúde e vidas mais curtas.
Fonte: Science of Us
Via Revista Galileu