De tempos em tempos aparece nas manchetes de jornal: “Quer viver mais? Case-se”. Só que pode não ser tão boa ideia: não só os solteiros têm mais benefícios psicológicos como “os estudos que medem variáveis de saúde e psicologia entre as pessoas casadas e solteiras para concluir que casar fará a pessoa mais feliz e viver mais há anos nos enganam”, alerta Bella de Paulo, psicóloga social, doutora pela Universidade de Harvard, estudiosa da solteirice, como chama a atitude de “preferência aos casados frente aos solteiros na sociedade” e autora de Singled Out (jogo de palavras que pode ser traduzido como solteiros marcados). “Sempre pegam como referência pessoas que estão casadas no momento do estudo.” Isso, explica, faz que boa parte dos infelizes no casamento —todos aqueles que se divorciam, por exemplo— saia automaticamente dos estudos, como se nunca houvessem se casado. “Isso é chamado de anulação estatística”, sentencia. Não sabemos, pois, se problemas de saúde levaram a um divórcio, se os maus hábitos de um casal provocaram a morte de um dos membros e fizeram o outro ser contado como viúvo, mas não casado, ou se os problemas derivados de uma experiência traumática poderiam alterar a estatística. O que temos, sim, são algumas certezas científicas que evidenciam a boa saúde das pessoas solteiras.
Outra pesquisa, com nada menos de 3,5 milhões de pessoas, foi apresentada pelos meios de comunicação como “o casamento faz bem para o coração” (aqui podem ser baixados os resultados, em Power Point). Realmente, os casados tinham melhor pontuação em quase todas as variáveis, exceto, por exemplo, nas doenças coronarianas, menos frequentes entre os solteiros. Problemas: só foi medida numa ocasião, e, já se sabe, correlação não significa causalidade, e a amostra não foi aleatória, e sim feita com base em pessoas que viram um anúncio.

3. Permanecem mais magros Entre uma observação —“casam e engordam”— e um fato científico há um longo caminho. O primeiro passo foi um importante estudo realizado pelo Centro Nacional de Estatísticas de Saúde dos Estados Unidos (CDC) entre 100.000 norte-americanos, que concluiu que as pessoas casadas engordavam mais que as solteiras, mas essa pesquisa analisava os participantes somente em determinado momento, tornando difícil saber se essas pessoas tinham sido sempre assim ou se o casamento havia provocado o ganho de peso. Mas uma análise realizada na Austrália com 6.000 mulheres, ao longo de 10 anos, chegou à mesma conclusão: as mulheres casadas, e especialmente as casadas que tinham filhos, engordavam mais que as solteiras. Os pesquisadores —destacou o The New York Times— indicam outro estudo anterior que provava que os homens com filhos tinham tendência maior à obesidade, “devido a fatores sociais e comportamentais, entre outras razões.

5. Dormem melhor Dormir juntos é um hábito relativamente recente, que não se popularizou até a Revolução Industrial, quando compartilhar a cama se tornou um poderoso incentivo econômico, segundo relata em seu livro At Day’s Close: Night in Times Past (no fim do dia: a noite no passado) o historiador e professor de tecnologia Roger Ekirch. Por que decidimos continuar a fazer isso depois é um mistério: não apenas há os diferentes costumes —cortina aberta ou fechada—, como se eleva a temperatura na cama, quando o recomendado é dormir a entre 15ºC e 20ºC, um pode facilmente acordar o outro, e falta espaço; segundo a Unidade Multidisciplinar do Sono da Fundação Jiménez Díaz, aproximadamente a metade da população masculina e um quarto da feminina roncam.

6. O amor estressa mais O cortisol, o hormônio do estresse, manifestou-se de forma evidente quanto as participantes de um estudo realizado somente entre mulheres foram submetidas ao experimento descrito a seguir. O grupo foi dividido em dois, e de ambos foi medido o nível de cortisol a partir de um exame de saliva. Depois foi pedido que uma parte concentrasse seu pensamento em seu par, enquanto o outro grupo deveria pensar na amizade entre pessoas de sexos diferentes. Isso era acompanhado pela projeção de imagens que ajudavam a focar o pensamento. As que deveriam pensar em seu companheiro romântico apresentaram nível de cortisol sensivelmente superior, com diferença que era muito mais acentuada entre as participantes que se caracterizavam por, em geral, pensar muito nas relações.

7. Praticam mais esporte Parece que os solteiros são mais conscientes dos hábitos que os beneficiam, ou pode ser uma questão de tempo, mas o caso é que enquanto os casados dedicam mais tempo a seu par, os que vivem sozinhos acabam cuidando mais de sua forma física. Um estudo colheu dados de mais de 13.000 norte-americanos com entre 18 e 64 anos —embora os dados tenham sido obtidos num só momento, o que impede de saber a mudança de hábitos em caso de mudança de estado civil. Foi perguntado quais esportes, numa lista de 16, as pessoas tinham praticado nas duas semanas anteriores e quantos minutos haviam sido dedicados a eles. Os homens solteiros tinham praticado em média 8 horas e 3 minutos, contra 6 horas e 10 minutos dos divorciados, 5 horas e 46 minutos dos viúvos e 4 horas e 47 minutos dos casados no momento da coleta de dados. Para as mulheres: 5 horas e 25 minutos as solteiras, contra 4 horas e 17 minutos das divorciadas, 4 horas das casadas e 3 horas e 13 minutos das viúvas. Nessas duas semanas havia uma brecha de mais de três horas de exercício entre solteiros e casados e de quase uma hora e meia entre solteiras e casadas.

8. Têm menos dívidas Dois dados que podem parecer paradoxais: os casados ganham mais, mas os solteiros têm menos dívidas. Primeiramente esclarecemos de onde vêm os dados e depois resolvemos a equação. Um estudo realizado na Alemanha pela Universidade de Bielefeld entre 12.245 participantes revelou que os homens casados tinham salário consideravelmente mais alto que o dos solteiros. E, dentro do primeiro grupo, aqueles cujas companheiras não trabalhavam ganhavam ainda mais. E ainda, aqueles que viviam com seu par, mas não eram casados, recebiam entre 15% e 20% mais que os solteiros. Mas o endividamento, mostra pesquisa, é menor entre os solteiros. A pergunta: como isso é possível? Há muitas teorias: desde a discriminação até que as organizações consideram que o fato de ter ido ao altar mostra que os casados são pessoas fiéis a seus compromissos. Outra explicação é o incentivo do dinheiro: os casados valorizam mais o pagamento num posto de trabalho que os solteiros e valorizam mais os aspectos mais relacionados às tarefas próprias do trabalho.
Fonte: El País