Nossa ofegante epidemia

Está chegando o Carnaval, e queria muito ter repertório para poder escrever algo a respeito, seja sobre a alegria contagiante desta data, seja para criticar ou então fazer graça, como em tantos ótimos textos que li recemente sobre o tema. Descobri, infelizmente, não sem certa dose de frustração e inveja dos que têm boas histórias nesta área, que não disponho da necessária expertise para discorrer a respeito.  Nunca pulei Carnaval em Salvador. Nunca participei dos grandes desfiles do Rio de Janeiro ou de São Paulo, nem os assisti. Nunca fui aos grandes bailes ou festas em cidades do interior.  Nunca fui apresentada aos grandes bonecos de Olinda.  Tenho que confessar que nem ao menos conheço os bloquinhos de rua que começaram a ficar tão populares, e que acontecem – centenas deles – aqui na minha esquina há pelo menos quatro ou cinco anos.  Sinto-me um pouco menos brasileira por isso e acho uma lacuna importante na experiência de qualquer jovem que goste de som, de dança e de cerveja (sim, dá barriga, mas eu gosto!). Só não me deprimo mais pois acredito que se fosse algo que eu desejasse profundamente, já teria dado um jeito de priorizar.  Sempre, por um motivo ou outro, acabei escolhendo outro destino de viagem ou outra programação para este feriado tão longo e tão nobre (bem no pico do verão!) do nosso calendário.  Minha falta de bagagem no assunto é tanta que nem ao menos sei dizer se o hilário texto da Tati Bernardi para a Folha de São Paulo, que me arrancou lágrimas de tanto rir, reflete a realidade ou possui doses cavalares de exagero.  Acho que a experiência mais próxima que tive de um Carnaval foi ir a ensaios de escolas de samba, algumas cariocas, algumas paulistanas.  Aliás, este é um programa que recomendo fortemente, pois a emoção de escutar ao vivo uma bateria completa (para quem curte, claro!) é impagável, e não tem como não contagiar mesmo aqueles que não tenham tanto samba no pé.  Na vez em que fui ao ensaio aqui em São Paulo, levei uma amiga japonesa que mora em Nova Iorque (e que estava na cidade para o meu casamento), e foi absolutamente incrível vê-la na pista de dança (tudo bem que ela tem uma alma um pouco latina demais para uma japonesa da gema).  Mas, ao escrever este texto, decidi que pretendo corrigir este gap de vivência, e ir um dia desfilar, quem sabe com meus filhos (a 1º vez que fui a um ensaio  foi com meus pais e minha irmã, e é uma linda memória afetiva que guardo até hoje).  Ou então ir a Salvador, me juntar ao meu sogro, que no auge dos seus oitenta anos segue indo para lá quase todos os anos para assistir ao Carnaval de camarote.  Sei que alguns dos aspectos mais emblemáticos da festa já não são mais tão apropriados para uma senhora casada como eu, mas para dançar, pular e “festar” (mesmo que não exista nenhuma razão aparente para festejar), acho que não deveria mesmo haver idade!

Por Autoterapia


Shelly Zaclis Bronstein

Shelly Zaclis Bronstein escreve crônicas e poemas, é autora do livro Autoterapia e trabalha como executiva de marketing de uma grande multinacional na área de tecnologia. Mora em São Paulo, é casada e mãe orgulhosa do Felipe e da Camila.

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