Minoria não representa CT’s

Balde-furado

Boas intenções aliadas à má conduta só aumenta o problema, que já é complexo.

Aproximadamente, existem no Brasil cerca de duas mil Comunidades Terapêuticas que querem trabalhar de forma correta com reabilitação de dependentes químicos e seguem rigorosamente as condutas éticas e a legislação em vigor (RDC 29/2011 e Resolução Conad 01/2015) para o seu pleno funcionamento.

Sabemos que há um número absurdamente superior de entidades no país que atuam na informalidade, mas isso não é o foco. A grande maioria busca capacitação e tenta como pode adequar às leis adquirindo os devidos registros, estrutura física e equipe mínima multidisciplinar.

No meio disso, há uma minoria que não atua de forma adequada. Corrompendo o trabalho sério de muitas CT’s. Infelizmente, esta minoria de entidades acaba recebendo a atenção da mídia como foi o caso do incêndio que matou sete pessoas numa “clínica”, na última quinta-feira (21/07/2016), que fica a 60 quilômetros de Porto Alegre.

As vítimas estariam trancadas numa das alas do local. Para começar, uma CT não tranca ninguém. E há um rigoroso critério sobre o número de acolhidos para cada equipe. Numa comunidade realmente habilitada deve haver, para cada 30 acolhidos, no mínimo quatro responsáveis com nível superior e seis técnicos. Tirando os voluntários.

Na instituição em que aconteceu a tragédia tinham 40 pessoas dormindo no local e apenas quatro pessoas devem ser indiciadas por homicídio qualificado com dolo eventual ou omissão. Um péssimo exemplo que não pode manchar o trabalho sério de institutos como Padre Haroldo, Fazenda Esperança e Casa Reviver.

Conforme a Confederação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Confenact), o que a maioria das CT’s quer é mostrar o bom trabalho de quem atua de forma correta procurando deixar clara a diferença entre a maioria e uma minoria que apenas usa o nome “Comunidade Terapêutica” como fachada para “caça níqueis” às famílias desesperadas.

Não se enganem. A maioria que atua na reabilitação de dependentes químicos não compactua com as tragédias. Elas querem vida em abundância e não a morte rondando os “muros institucionais”. Boas intenções aliadas à má conduta só aumenta o problema, que já é complexo.


Roney Moraes

Psicanalista; Especialista em Saúde Mental e Dependência Química; Mestre em Filosofia da Religião; Doutor em Psicologia (Dr.h.c); Doutorando em Psicanálise (Phd); Analista Didata da Escola Freudiana de Vitória (Acap); Ex-presidente e membro da Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees); Coordenador do Centro Reviver de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas (Crepad); Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL).

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