DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

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“Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, sabia que, se não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, ainda estaria na prisão.” Nelson Mandela

Domingo de Páscoa ou “Domingo da ressurreição.” O túmulo vazio significa que Jesus Cristo ressuscitou. Assim, nós também podemos ressuscitar. Eu desejo para todos uma verdadeira, salutar e talvez até salvadora “mudança de mentalidade.”. Que a partir de hoje todos possam colocar em prática a regra de ouro da humanidade: “Não fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco.” Nem permitir que façam conosco o que não faríamos aos outros. Que a partir de hoje todos possam se lembrar que são humanos e nosso destino é um só. Segundo o grande crítico literário americano Harold Bloom “Todos temos o mesmo destino: envelhecer, adoecer e morrer.”. Eu reconheço que ele pode ser selvagemente sincero, às vezes, mas sempre sumamente sábio e generoso em sua observação da vida em movimento. Como dizia Emerson “As pessoas valem pela capacidade de conhecimento e autoconhecimento que nos proporcionam e despertam.” Assim, principalmente para quem a vida já roubou algo inestimável com extrema violência e injustiça, que aprendamos de uma vez por todas a sermos éticos e solidários. Hoje é dia de lembrar com saudade de quem amamos e perdemos na vida.

Então, que não façamos com os outros o que a vida fez conosco porque sabemos a dor que sentimos e não a desejamos para ninguém. Amadurecer pelo amor e buscar a paz. O verdadeiro amor não ambiciona senão a felicidade real do objeto de sua paixão. Seja qual for a crença que crepita em seu coração a história da humanidade assim como a história do Direito convergem para uma só história: a busca do bem comum e a preservação da liberdade individual. Por isso, é tempo de renovação de nossas visões e valores. É tempo de repensar nossas ações e tomar novas atitudes na direção da realização de nosso projeto de vida e de novas narrativas. É tempo de cultivar a arte do amor em sua acepção mais profunda: o cuidado do outro, a compaixão e o perdão.

Contudo, considero muito perigoso perdoar quem não se arrependeu genuinamente. Por duas razões, primeiro considero arrogância fazê-lo e a arrogância é sempre um erro amador. É uma tentativa de superar o conflito por apenas uma das partes sem efeito eficaz. Segundo porque você retira de quem lesou seus direitos ou magoou seus sentimentos a possibilidade de realmente se arrepender pelo seu erro ou excesso. E não há arrependimento sem sofrimento. O sofrimento é uma experiência fundamental para nosso amadurecimento e desenvolvimento pessoal como ser humano, cidadão e demais papeis sociais que adotemos. Eu sei que, às vezes, precisamos agir em legítima defesa. Na letra da lei “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.” Art. 25 do Código Penal. Mas cessada a agressão deve cessar também a legítima defesa. A “redenção pelo respeito” é o caminho certo para a paz permanente. Que o sigamos! Que doravante cada um possa cuidar da sua própria vida em paz como achar melhor, segundo sua consciência e princípios pessoais e que procure sempre fazer a coisa certa.

Assim, a Páscoa simboliza uma segunda chance para todos nós. É tempo de tomarmos o controle da nossa própria vida, de assumirmos nossos afetos irreprimíveis e de fazermos nossas próprias escolhas. A crise é o momento da mudança. E como sabemos não existe mudança sem sacrifício ou elevação sem esforço. É tempo de nos livrar de tudo que nos tornou menores do que somos: o egoísmo, o ciúmes, a inveja, a hipocrisia, o preconceito, a intolerância, o medo, o orgulho, a raiva, a vergonha, a culpa… É tempo de nos libertarmos da “servidão voluntária” em relação ao mundo e afirmar o que temos de melhor e mais primordial no interior de nossa essência: o amor, a ética, a coragem, a autenticidade, a gentileza, a alteridade, a bondade e a espiritualidade. É tempo de não medir esforços para começar uma nova vida, aquela que sempre sonhamos ao lado de quem sempre amamos. E como recomenda Edgar Morin “Viver poeticamente.” Amém.

“A vida é coisa muito frágil, feito uma bolha de sabão. Por isso o que nos resta fazer é abraçar o que amamos enquanto a bolha não estoura.” Rubem Alves em Flamboyants


Thiago Castilho

Advogado e escritor, um homem de leis e letras. Acredito que a arte pode “ensinar a viver”. Ensinar a viver significa ensinar a lutar pelos seus direitos e a amar melhor a si e a toda humanidade. Adquirir o conhecimento e transformá-lo em sabedoria de vida no palimpsesto do pensamento. Eis meu ideal intelectual que busca realizar a experiência do autoconhecimento, não sei até se do absoluto e talvez do Sublime aplacando assim minha angústia existencial, sem soteriologia, porque ao contrário de Heidegger não acho que somos seres-para-a-morte, mas seres-para-a-vida e seres-para-o-amor.

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