As três afinidades essenciais para um relacionamento afetivo

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Não existe fórmula perfeita para um romance dar certo ou um casamento durar durante anos com relativa harmonia. Cada casal deve descobrir em conjunto a sua “receita”, algo particular que pode funcionar muito bem para alguns e fracassar para muitos outros. Alguns casais alegam que o segredo do casamento duradouro e feliz é viver em casas separadas. Outros se contentam em dormir em quartos separados ou simplesmente ter um banheiro privativo. Sou uma das adeptas de que as grandes guerras conjugais se iniciam no banheiro. Outras pessoas afirmam completamente o contrário: o casal deve fazer tudo junto, como morar na mesma casa, dormir na mesma cama, compartilhar tudo o que existe de bom e de mau em uma relação. Alguns casais viajam ou fazem passeios sozinhos ou com amigos para preservar a individualidade e desta forma se sentir mais inteiro no relacionamento. Outros já optam por se divertir juntos, assumindo os mesmos hobbies e trabalhos voluntários do parceiro.

Alguns optam por conversar sobre tudo, dialogando sempre, para evitar acúmulo de mágoas que no futuro podem se reverter em uma avalanche grotesca de insultos. Outros preferem colocar os problemas debaixo do tapete.
Como comentei no começo do post, o segredo da harmonia conjugal é algo particular e íntimo. Deve ser descoberto ou construído em conjunto por cada casal. Mas, algo me parece muito semelhante em todas as uniões afetivas: as três afinidades essenciais.

1. Afinidade emocional
2. Afinidade intelectual
3. Afinidade afetiva

A afinidade emocional consiste basicamente no jeito de viver o lado mais romântico da relação: o nosso senso de belo e de prazer; como reagimos aos apelos sensuais; como desfrutamos do sexo; como apreciamos passar o nosso tempo livre; o que consideramos divertido e elegante. Enfim, é o nosso amante interior. Normalmente , pessoas com afinidade emocional tendem a se entender melhor na cama e apresentam conceitos semelhantes de romantismo.

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A afinidade emocional é muito importante durante toda a relação, mas principalmente no início.

A afinidade intelectual é como raciocinamos, como processamos as informações e traduzimos as experiências em ensinamentos e aprendizados. Diz respeito ao nosso jeito de aprender, de ensinar,  de se comunicar, de analisar e entender o mundo que nos cerca. Algumas pessoas veem nas experiências negativas uma oportunidade de crescimento pessoal. Outras se tornam rancorosas quando algo sai errado. Algumas pessoas são mais assertivas. Outras nem tanto. Algumas pessoas aprendem melhor por tentativa e erro e métodos mais lúdicos. Outras preferem métodos mais tradicionais.

A afinidade afetiva diz respeito às nossas necessidades psicológicas mais essenciais e profundas.  Diz respeito a tudo aquilo que precisamos para nos sentirmos equilibrados, seguros e confortáveis. Por exemplo: uma mulher com extremo senso de liberdade terá dificuldade para se relacionar eroticamente com um homem ciumento e que gosta de ter o controle da situação. O inverso também ocorrerá.  Quando duas pessoas possessivas se relacionam, elas entendem que despertar o ciúme do outro é algo perigoso pois provoca muito sofrimento.  Apenas o ciumento pode entender o quanto é doloroso sentir-se inseguro. Por outro lado, o faminto por liberdade entenderá o parceiro que também anseia por espaço na relação. Ele ou ela entenderá que a parceira/parceiro precisa fazer passeios sozinha/sozinho e que isso não desmerece em nada o amor de ambos.  Algumas pessoas precisam de segurança material para se sentirem bem e equilibradas. Outros gostam de aventuras, de correr riscos, tentar coisas novas a cada instante.

Por mais que haja boa afinidade emocional e intelectual entre o casal, pode ser muito complicado lidar com expectativas e objetivos de vida tão díspares. Em resumo: enquanto um economiza dinheiro para comprar uma casa e se sentir seguro,  o outro quer utilizar boa parte do orçamento do casal para fazer viagens e ganhar experiências de vida.
A afinidade emocional é muito importante na fase inicial da relação. Na maioria das vezes nos aproximamos das pessoas que apresentam afinidade emocional pois no começo da relação não nos preocupamos muito com questões mais profundas e práticas. Muitas vezes, deixamos de conhecer melhor uma pessoa com extrema afinidade afetiva pois emocionalmente ela não nos parece tão similar ou atraente.

Acredito que a maioria das paixões avassaladoras que  viram nada passado o fogo inicial se deve à existência única da afinidade emocional. Sem um mínimo de afinidade intelectual e uma boa dose de afinidade afetiva fica muito complicado uma relação durar de forma harmônica.  No namoro, muitas vezes, se dar bem emocionalmente é o bastante. Mas num casamento a coisa muda de figura. Por isso, vemos todos os dias  casais que pareciam lindos e afinados se desmancharem. Apesar de todo o romantismo que circundava o casal, de todos os gestos de carinho trocados, no dia a dia as pessoas apresentavam necessidades psicológicas diferentes.  Uma pessoa passional pode se apaixonar por alguém de temperamento tranquilo, que anseia por segurança acima de tudo. Mas dificilmente com o passar do tempo a relação vai se manter estável.  Como afirma o psicólogo Aílton Amélio, os opostos se atraem, mas  são os semelhantes  que dão certo.

Sabemos que encontrar alguém completamente afinado com a gente não é possível. Diferenças sempre existirão e uma boa dose de paciência e flexibilidade são essenciais para a consolidação de um relacionamento.  Por outro lado, conviver bastante com o parceiro antes de oficializar a relação me parece uma atitude prudente. Conviver com sinceridade, com assertividade. Como assim? Sem usar máscaras e encobrir opiniões e defeitos para não desagradar ao outro.  Muita gente aparenta A no namoro e depois do casamento mostra que é B pois, lá no fundo, acreditamos ingenuamente que o parceiro aguentará todas as nossas manias depois do casamento e que todas as incompatibilidades se resolverão num passe de mágica. Ninguém muda ninguém. O casamento não transforma ninguém. O máximo que podemos fazer é nos adaptar ao outro e o outro se adaptar a nós por meio de muito diálogo, carinho, compreensão mútua e flexibilidade para fazer dar certo.


Sílvia Marques

Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.

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